quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Musa Cinzenta



Todos os dias me sentava junto ao cais da tua boca
a ver-te voltear o sentimento.
Barcos irados
despenhavam-se no crude
com que navegavas as horas.
Marés calcinadas
reanimavam fantasmas
no tempo apagado.
E eu, ali,
debruçado sobre a orgia temperamental
contorcia-me na apoteose fumegante do fel.

Todos os dias subia trevas embriagadas
fulminado de abismos azuis
e no ingénuo paraíso
bebia relâmpagos de ilusão.
Electrocutado no hálito distante,
carregava metáforas luminosas
pelas margens sanguíneas do fascínio.

Agora junto à tua boca deserta,
desço as madrugadas que latejam na alma
por um rio gelado aceso de lâminas.

Hoje morrerei como todos os dias,
nas infindáveis lágrimas crivadas de pólvora
que deflagram na geometria transtornada da ausência


Alberto Pereira

Livro - O Áspero Hálito do Amanhã

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Novo livro de Herberto Helder


Em breve um momento marcante para a poesia.
O lançamento de mais um livro desse poeta fascinante que é Herberto Helder.


Título: OFÍCIO CANTANTE — Poesia completa

Autor: Herberto Helder

Colecção: Documenta Poetica

Ano de edição: 2009 / Tema, classificação: Poesia

Formato e acabamento: 14 x 20 cm, edição encadernada

N.º de páginas: 624

Apresentação:Ofício Cantante foi o título escolhido para a primeira publicação, em 1967, de poemas reunidosdo autor, na colecção Poetas de Hoje, na Portugália Editora, título agora recuperado para a sua poesia completa. Para além de alguns poemas inéditos (e outros retrabalhados), incluem-se aqui os poemas do já esgotado A Faca Não Corta o Fogo — Súmula & inédita, considerado o melhor livro de 2008 por alguma da imprensa especializada.



não chamem logo as funerárias,
cortem-me as veias dos pulsos pra que me saibam bem morto,
medo? só que o sangue vibre ainda na garganta
e qualquer mão e meia me encha de terra a boca,
sei de quem se tenha erguido, de pura respiração, do fundo da madeira,
saibro, roupa, gôtas de orvalho ou cêra,
ornatos, espadanas, lágrimas,
últimas músicas,
não é como no escuro o trigo que ressuscita,
sei sim de quem despedaçou as tábuas
e ficou entre caos e nada com o
sangue alvoroçado nos braços e nas têmporas,
que se não pare nunca entre as matérias intransponíveis,
cortem-me cerce o sangue fresco,
que a terra me não côma vivo,

[excerto]

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Presídio


Poema do livro
"O áspero hálito do amanhã"

domingo, 4 de janeiro de 2009

Presídio


Aqui ficam os meus agradecimentos à Zélia Santos por ter dado a sua excelente voz a este poema




e também à Eliane que fez um excelente pps, para abrir carregar em

attachment: PRESÍDIO.pps que se encontra debaixo da música