quinta-feira, 4 de agosto de 2011

NÓDOAS ACORDADAS - Alberto Pereira




NÓDOAS ACORDADAS


Aprendi tantas vezes a morte,
sempre que o Verão atracava lâminas.
Abruptamente,
o catecismo afectivo mordia veneno.
As mulheres como navalhas
ruíam num sopro as cidades sobre a pele.

Mas o tempo trazia sempre
uma fogueira a acordar outro rosto.

Pela vigília luminosa, vinham de novo sereias,
a engolir a memória.
As lágrimas soerguidas nas nódoas
como satélites a espiar o encanto.

Lembro ainda a febre,
ora a estibordo, ora a bombordo,
de cada passo.
As palavras cálidas à flor da língua
a derreter a terra inteira
e de repente
um estrépito de paraíso.

Depois, o desenlace dos dias,
os minutos a respirarem a névoa,
as mulheres inesperadas noutros corpos.

Só na velhice entendi, 
um incêndio aprende-se com o gelo.

Alberto Pereira


Poema do livro
Amanhecem nas rugas precipícios