sábado, 29 de outubro de 2011

Ricardo Gil Soeiro - Constelações do Coração


Assisti ontem ao lançamento de 2 livros de Ricardo Gil Soeiro,

"Constelações do Coração" e "Labor Inquieto".
Do primeiro já posso falar, porque o li hoje na totalidade.

Constelações do Coração é um ensaio sobre a ofícina da escrita, o labor inquieto do poema à procura duma voz que o traduza.
Tudo nasce no não visível.
O silêncio ensaia no corpo possibilidades de destino.

Como diz Ricardo Gil Soeiro,
"escrever é mentir com a máxima sinceridade de que se é capaz".

Mas antes de se mentir desta forma, é preciso aprender a mentira nos outros. Procurar fontes que encaixem no pensamento e o façam adornar com o peso do perfume.
Entre os nomes que fizeram este trabalho no autor, encontrei referências a escritores e livros que também me influenciaram.
"Húmus" de Raúl Brandão, "Carta ao Futuro", de Vergílio Ferreira, "Cartas a um jovem poeta" de Rilke, "O medo" de Al Berto.
Ramos Rosa, Herberto Helder e Paul Celan não escapam ao lote de obreiros que edificaram o telhado poético do autor.
A escrita começa num estado de vigília, em que é preciso ter os sentidos em tudo o que desenha o encanto.
O passo seguinte, a construção.

Como é referido em "Constelações do Coração",
"O silencioso mapa da nossa interioridade começa a ganhar forma e depois é preciso desbastar: cortar, eliminar, ler novamente tudo, deixá-lo em pousio, esquecê-lo, regressar comovido ao que já se havia esquecido, voltar a cortar. E há um instante, não sei muito bem explicar em que espessura do incriado o podemos vislumbrar, em que o poema nos pede para o deixarmos em paz. Está pronto a partir. E nós também."

Constelações do Coração é uma viagem à falência de uma ideia feita;
que o poeta trás à tona o verso no momento que quer.
Nada pode ser mais errado.
O poeta aguarda no fracasso que um verso lhe mostre a eternidade,
sabendo porém, que a eternidade também sabe morrer.

Um livro que aconselho vivamente, porque é preciso dar valor a autores como Ricardo Gil Soeiro, que trabalham muito sem que ninguém os veja.

Alberto Pereira

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